terça-feira, 21 de junho de 2011

Sua destrutividade em questão


Some people remain in an unconscious state of internal war with other people or in some cases with themselves.

Muitas pessoas não se dão conta do grau de destrutividade inato que carregam consigo. E, em função disto, reincidentemente sofrem em função dos desdobramentos e das consequências desta destrutividade, sem compreender qual é a sua contribuição efetiva neste processo.

Tais pessoas inconscientemente permanecem em estado de guerra com os outros ou, em alguns casos, consigo mesmos. O resultado prático deste “estado de guerra inconsciente” é uma coleção infindável de relacionamentos, trabalhos, vínculos, projetos, iniciativas etc, total ou parcialmente fragilizados, danificados, minados, ou seja, destruídos.

A psicanalista inglesa Melanie Klein desenvolveu uma polêmica teoria e prática clínica usando como base justamente a afirmativa que a destrutividade é o ponto originário do ser humano e não o desejo sexual - invertendo assim a equação Freudiana.

Observando sob a sua perspectiva de que o motor inato não é o desejo e sim a destrutividade, ela afirma que o indivíduo entra em angústia porque, frente à intensidade do poder desta destrutividade em si, ele pode ser aniquilado. Sendo que os dois destinos possíveis para dar vazão a tamanha angústia são: atacar o outro ou atacar a si próprio.

Desta forma, o indivíduo inaugura um inter-jogo contínuo em que teme ser eliminado pelo outro, quando na verdade, ele próprio quer eliminar o outro. Na prática, o que acontece é que se o indivíduo ataca o outro e o outro retalha. A retaliação do outro incrementa a sensação de aniquilação que leva o indivíduo a atacar mais intensamente no movimento seguinte e assim sucessivamente.

Portanto, à medida que o outro retalha, o indivíduo vai colecionando também “desculpas oficiais” para usar a sua destrutividade contra o outro, na maioria das vezes, sem ter a consciência de que foi ele próprio quem iniciou este estado de guerra.

Em alguns casos, isto se dá em função do indivíduo entrar em negação em relação a “parte obscura” ou ameaçadora de si próprio, e da projeção disto no outro: o resultado é que “odeio no outro aquilo que de mim reconheço nele”. Portanto para estas pessoas é mais fácil odiar, atacar e culpar o outro, do que se implicar no processo.

Porém, quando o destino inconsciente desta angústia de destrutividade é atacar a si próprio, o indivíduo permanece preso em um estado de “auto-boicote” nas mais diversas áreas, onde o resultado prático é não finalizar nenhum projeto pessoal em que esteja engajado, resultando, obviamente, em sensações de frustração constante e de fracasso.

Ainda segundo a psicanalista inglesa Melanie Klein, o trabalho psíquico necessário em ambas situações é fazer com que o indivíduo compreenda as consequências da sua destrutividade, admita quais foram as suas contribuições efetivas neste quadro (conscientes ou não!) e principalmente se responsabilize pela reparação da sua destrutividade no outro e em si próprio.

Obviamente que, para ser efetivo, este processo precisará sobreviver as inevitáveis rodadas de ataque e auto-boicote que ocorrerão durante o próprio trabalho psíquico do tratamento. Daí a importância de ser realizado através de uma dupla de trabalho: psicanalista e analisando.

Cuide-se!

Débora Andrade

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