terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Lar, doce lar

Her friends envy her, because she has a career. Comes and goes whenever she wants. They just forget the fact that she is the breadwinner, with all the responsibilities that the role requires.

Valéria trabalha numa multinacional. Uma vida louca. Ela gostaria de fazer um curso de meditação, relaxamento, estas coisas mais zen, mas nunca tem tempo. Não consegue deixar de sentir uma pontinha de inveja das amigas que têm filhos e maridos. Talvez no fundo quisesse ser como elas, mas as coisas foram acontecendo e acabou optando por uma carreira onde filhos seriam um elemento complicador. Ela sente falta de alguém com quem conversar ao voltar para casa, esta é a verdade.

As amigas a invejam porque ela tem uma carreira. É dona de seu nariz. Entra e sai quando quer. Só esquecem o fato de que ela é a chefe da casa, com todas as responsabilidades que a função exige: uma só fonte de renda para assumir todas as despesas para manter a casa funcionando. Acham que Valéria leva uma vida divertida, pois quando não se tem filhos, a vida é cheia de aventuras. As amigas sempre sonharam em ter uma vida selvagem, descobriram isto tendo filhos, mas não era exatamente o que tinham em mente.

É um sábado à tarde. Valéria e as amigas estão em sua cozinha conversando. Ela lhes serve um café e comenta, resignada, que estará viajando nos próximos dias. Elas querem saber dos executivos charmosos que ela encontra nestas viagens. Valeria dá um sorriso amarelo, assim como ela, estes profissionais estão a serviço de uma empresa que mede o valor do executivo em função de sua produtividade. Ela comenta que sim, verá vários homens durante a viagem, mas eles correm muito, e como ela, não estão
prestando atenção nas coisas que acontecem ao redor. Não dá tempo.

Curiosas, querem saber se ela já conheceu alguém, assim, de uma forma mais pessoal, não apenas um encontro casual, mas algo que continuou após o vôo. Ela sorri, lembrando de um ou outro rosto com quem ela desejaria de fato ter tido algo mais, mas assim como ela, eles também decidiram que a carreira é a coisa mais importante naquele momento - no fundo concordam que uma casa com crianças, cachorro latindo e um jardim na frente da casa são itens que eles não podem ter, talvez jamais tenham. E aqueles e aquelas que têm, culpam-se pela ausência do lar e distanciamento dos filhos, que praticamente nem viram crescer.

Enquanto as amigas comentam emocionadas que isto sim é uma vida interessante, ela só consegue pensar que o que mais gostaria de fazer seria levar as crianças para cursos de inglês, ballet, judô, preparar o almoço à tarde, bater um bolinho para o lanche, sorrir cada vez que a criança inventa algo diferente, ficar orgulhosa pelas boas notas do filho e mais do que nunca, perceber que o importante mesmo na vida é plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro.

Ou pelo menos ter um filho, torcer para que ele seja um escritor e esperar que seu neto goste de plantas. Aí sim, o ciclo terá se completado.

Gladis Costa

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