segunda-feira, 2 de maio de 2011

Esperança como princípio


Conecting positive and negative aspects of the same object is an important part of this process.

Anos atrás participei de um curso de psicanálise que discutiu sobre diferentes dimensões da esperança.
O primeiro tipo de esperança, muito primitiva, tem a ver com a nostalgia. Esperança dita como nostálgica ou regressiva tem como objetivo voltar a uma situação anterior de plena satisfação. Resgatar algo que hoje, frente a sua ausência, se julga como algo ideal. Seja um relacionamento, emprego, situação de vida, e que para facilitar o artigo, passo a chamar de “objeto de amor”, um objeto que traz uma lembrança de experiência de plenitude e, por isto, torna-se idealizado.
Uma vez idealizado, o inconsciente humano utiliza-se de defesas psíquicas projetando todos os maus aspectos deste objeto de amor para fora dele, perseguindo o ingênuo objetivo de mantê-lo imaculado. Porém, o “lado ” não desaparece. Estes maus aspectos expatriados da sua origem projetam-se do psiquismo como sendo medos de ameaças externas.
O humor fica então alternando, feito pêndulo, entre a esperança de resgatar este objeto de amor e o medo intenso de que este objeto de amor seja danificado, constituindo uma espécie de terror. Ameaça e terror que vem do risco do objeto não ser alcançado ou muito pior: ao ser finalmente alcançado, o objeto deixa de ser idealizado, uma vez que as ilusões de perfeição em relação a ele serão inevitavelmente quebradas em função do teste de realidade.
Portanto, é o próprio objeto quem faz tanto o papel de sedutor como o de ameaçador. Por mais contraditório que possa parecer, este é um tipo de esperança debilitante, uma vez que busca agarrar-se em garantias.
Já o segundo tipo é a esperança como princípio, baseada na capacidade de articulação da ausência e da presença do objeto desejado.
Esta capacidade de articulação envolve tolerância à frustração.
Integrar os aspectos positivos e negativos do mesmo objeto é um caminho importante nesta sequência. Fazendo emergir um tipo de esperança não necessariamente sustentada por ilusões, mas que tolera bons e maus aspectos do mesmo objeto. É, portanto, uma esperança madura, uma vez que possui capacidade reparadora aos danos causados pelos maus aspectos do objeto desejado, embutindo assim gratidão e perdão.
Uma outra dimensão é a esperança ligada ao processo identificatório. Desenvolver a habilidade de projetar para si metas, modelos e ideais a serem perseguidos, ideais realistas, completamente desprovidos de idealizações ingênuas. Em uma espécie de “não sou, mas posso vir a ser”.
Isto pressupõe experiências bem sucedidas de elaboração de luto, sendo luto aqui não simplesmente a morte de uma pessoa querida, mas perdas em geral. Vivenciar processos de luto envolve a capacidade de suportar a dor da perda, reconhecer o inevitável desta dor e a capacidade de, com o tempo, desapegar-se psiquicamente desta dor, resignificando-a.
Hanna Segal introduz o que vai além da reparação proporcional. Fala de reparação criativa, aquilo que move o criador que vai na direção de uma esperança de oferecer ao mundo algo melhor do que dele se recebeu. É uma modalidade intensa de esperança, onde há uma projeção para o futuro de algo que, a rigor, nunca existiu no passado.
É viver criativamente! É a esperança criativa!

Débora Andrade
Projeto Instigar

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