quarta-feira, 3 de agosto de 2011
O que é que estou fazendo aqui?
"De novo me meti nisso?" Quantas vezes você já se perguntou isto?
É como a armadilha pessoal do português: Diariamente ele faz o mesmo trajeto. Porém, certa vez, ele escorregou numa casca de banana e caiu no chão. No dia seguinte, havia outra casca de banana exatamente no mesmo lugar, e novamente este escorregou e caiu. No terceiro dia, já mais esperto... percebeu de longe que havia uma nova casca de banana e, antes mesmo de chegar lá, pensou: “Mas que chato! Novamente vou escorregar e cair!”.
Você já foi protagonista desta anedota?
Exemplos clássicos estão no campo amoroso: pense no cônjuge, filho, mãe, pai, trabalho, ou mesmo uma atividade que ame muito e exemplos de armadilhas pessoais aflorarão.
Mas por que, mesmo existindo diversas opções frente àquela situação, escolhemos escorregar e cair novamente?
Repetir o que foi prazeroso é interessante. Mas por que repetir algo que gera sofrimento?
Por mais estranho que pareça, há um sentido inconsciente nestas repetições. É deste estudo, afinal, que se trata a psicanálise. A compulsão à repetição é uma tendência natural, e até conservadora, de retornar ao conforto de um porto seguro. Mesmo que a permanência no porto seja dolorosa.
Outras vezes, posterga-se indefinidamente o momento de tomar uma decisão. Talvez porque se tenha a ilusão de que, enquanto se está em cima do muro, as diversas opções relacionadas a esta escolha permanecem como potenciais disponíveis. Afinal de contas, quando se escolhe uma das opções, simultaneamente se está abdicando de todas as demais...
Você já parou para pensar que a omissão é, intrinsecamente, delegar que os outros tomem decisões para a sua vida? Depois não adianta posicionar-se como vítima.
Quais são os medos em implicar-se nas próprias escolhas? Será o medo da frustração?
Pois bem, se acontecer (e, mais cedo ou mais tarde, vai acontecer!), sempre existirá a possibilidade de transformação.
Algumas pessoas tentam fugir a todo custo das frustrações, refugiando-se em ilusões. Outras, tomam como oportunidade para colocar em prática o pensamento criativo. A escolha é sua!
Ou será o medo da “mudança catastrófica”? Sabe quando o equilíbrio na engrenagem de uma situação que está precariamente funcionando é tão tênue que, se for modificado um único e pequeno aspecto, por efeito dominó, todos os demais são afetados?
Talvez seja o velho apego à zona de conforto, ou o medo do desconhecido.
Ou será o medo de decepcionar quem eu amo? Ou o medo de me tornar parecido com quem eu odeio? Inconscientemente colecionamos cópias e oposições de pequenos aspectos das pessoas com quem nos identificamos: um traço, uma atitude, ou até mesmo a responsabilidade pela concretização de um sonho.
Seria interessante o desafio de nos desfazermos de todas as escolhas que fizemos na vida, em função de identificações... Pode até ser mais confortável reconhecer-se apenas no eu refletido no espelho das identificações. Porém, não há porque temer esta nova faceta do eu que emerge após o exercício.
Uma vez despindo-se destas identificações, e permitindo revelar a sua verdadeira essência, você manteria as mesmas escolhas que fez na vida?
Talvez, a partir deste processo de apropriar-se de suas verdades pessoais, seja mais viável e menos doloroso fazer escolhas diferentes. Evitando, assim, o sofrimento de voltar a escorregar em cascas de banana que se encontram em algumas esquinas da vida.
Débora Andrade
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